3 meses com o Tomás na minha vida!
Passámos a barreira do primeiro trimestre. Ou do quarto… porque dizem que estes três primeiros meses são a continuação da gravidez, chamam-lhe “exterogestação”, o terminar do amadurecimento iniciado no útero.
O Tom cresce rápidamente e aprende a estar aqui e a comunicar. Já nos reconhece perfeitamente e reage às brincadeiras e aos nossos estímulos. Está cada dia mais fofo!
Eu, estou mais segura, mais tranquila. Compreendi que é mais fácil aceitar esta nova condição e adaptar-me, do que me queixar todos os dias do cansaço e da falta de tempo. Aos poucos vou encontrando a minha nova identidade, vou-me descobrindo como mãe, conciliando a minha nova vida com a antiga, com a esperança de chegar ao meu equilíbrio.
Os dias continuam a ser bastante cansativos, mas já não são tão duros. As lágrimas diárias finalmente cessaram e deram lugar a maravilhosas trocas de sorrisos e horas de conversa com o bébé.
Nunca me imaginei neste namoro tão meloso e piegas, mas saiu-me tão naturalmente que me faz mesmo acreditar que afinal, o instinto maternal, já o levava dentro.
Aos poucos volto a socializar… e só eu sei como preciso dos meus amigos, preciso de sair e ver gente, conversar, respirar fora de casa. Este é um tema essencial no pós-parto. Com todas as dificuldades desta fase, ajuda imenso se temos um bom suporte familiar e de amigos por perto. A questão é que muitas vezes, quem nunca passou por isto, não faz ideia do nível de isolamento a que se pode chegar. A falta de tempo e de disponibilidade, nem sempre é compreendida e inevitavelmente faz com que quem está perto se afaste, se esqueça de ligar, não nos inclua mais no grupo ou simplesmente siga a sua vida sem compreender que a nossa está como um disco riscado, em modo ‘repeat’, e precisamos de um empurrão que nos ajude a seguir em frente. Ainda que não seja fácil, tento combater o isolamento ao máximo, e aos poucos tenho voltado à vida social. Por fim vai acabando a “reclusão” pós-parto!!!
Mas infelizmente o que ainda não acabou foi a recuperação pós-parto…
Fico admirada com o pouco que se fala deste tema no dia-a-dia das mulheres.
Venho de uma família enorme, cheia de tias e primas cheias de filhos; e nunca ouvi ninguém falar do difícil que é o pós-parto. Ou tiveram todas muita sorte, ou provavelmente também contribuíram para esta sociedade patriarcal que exige a nossa perfeição como mães de família, em que temos que aguentar tudo e cuidar dos nossos filhos com um sorriso nos lábios, porque é isso que se espera de nós.
(Mesmo para as que dividimos tarefas em casa e temos a sorte de ter o apoio da pessoa com quem partilhamos a vida, este caminho tem várias etápas que se faz sozinha.)
Felizmente hoje em dia já há muita coisa escrita e informação on line, grupos de apoio, fisioterapia e recuperação do solo pélvico, há yogas e pilates e várias formas que nos ajudam a recuperar e a compreender o intenso processo da gravidez, do parto e do pós-parto.
Mas e em casa, no trabalho ou no café?!
Porque não se fala?
Porquê que não se conta que a recuperação da episiotomia pode ser complicada, que a cicatrização pode ser longa e dolorosa? Que pelo brutal esforço do parto, há quem fique com hemorróidas e incontinências. Que roturas perineais ou rompimentos do esfinter anal são muito mais frequentes do que se imagina. Que a dificuldade em amamentar é uma realidade. Que a cicatriz da cesariana pode doer durante mais de um ano. Que a epidural nem sempre é a solução para ter um parto sem dor. Que durante a quarentena continuamos a libertar desconfortavelmente sangue e fluidos e temos que usar uma espécie de fralda. Que a violência obstetrícia acontece. Que o instinto nem sempre é igual nem chega ao mesmo tempo para todas as mulheres. Que a privação do sono nao é mais do que uma agonizante tortura. Que as hormonas nos descontrolam de verdade. Que o isolamento é profundamente triste. Que a depressão pós-parto existe… (E se a depressão numa situaçao normal já é pouco compreendida pela sociedade, imagine-se numa mãe, que supostamente deveria estar em profunda felicidade por ter tido um filho).
Todo o processo pode também pôr em causa o despertar dos sentimentos pelo bébé, ou a ausência desses mesmos sentimentos. No meu caso, o meu desagradável pós-parto nada influenciou na descoberta do crescente amor que sinto pelo Tom. Mas compreendo e solidarizo-me com todas as mulheres que levam mais tempo a encontrar o seu caminho na maternidade.
Não compreendo porque se considera uma debilidade mostrar que somos de carne e osso, e se alimenta o culto da perfeição?!
Não faz mal partilhar as historias mais duras com outras mulheres, admitindo que somos frágeis quando as vivemos, mas acreditando que somos fortes para as superar. As histórias partilham-se para alertar, para ajudar outras mulheres a estarem mais preparadas, a fazerem tudo o que podem para que este momento único na nossa vida não tenha também um impacto negativo.
Já sei que o parto e a maternidade são algo natural, e que o corpo da mulher está preparado para todo o processo; mas nem todas as mulheres estão preparadas para o que vem depois.
Ser mãe é viver num estado de alerta constante e isso implica um potente desgaste. É abdicar da nossa liberdade, e mais importante, é abdicar de uma independência emocional e pôr o nosso ego de lado. Mas só temos plena noção disso e de tudo o que isso acarreta quando já temos o bébé nos braços.
Acaba-se agora o “quarto trimestre” do Tom, e apesar de eu ainda continuar a viver as consequências do meu parto, tenho vivido também a fase mais bonita e emocionante da minha vida até hoje. Nunca senti nada comparável a quando sinto o cheiro do meu bébé, a tê-lo adormecido nos meus braços, a vê-lo sorrir quando acorda e a sentir como se acalma quando me aproximo. Feliz 3 meses, Tomás!
Li e reli a tua análise a nova vivência de seres Mãe e tudo de surpreendente o que tem acontecido.
Belo relato aberto e sem tabus!
Já começaram as descobertas e muitas mais virão
Preparada?Acredito que sim bjinhos
GostarLiked by 1 person
Bem como eu não quero virar spam só digo isto: 💪🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
GostarLiked by 1 person