Adeus Rita!

Foda-se!
Pode ser meio feio começar um post no blog assim. Principalmente depois de tanto tempo sem escrever. Mas este post sai-me da alma, sem editar nem reler várias vezes. Sai-me da profunda tristeza de quem se olha ao espelho e vê que o tempo passou demasiado rápido e a vida inevitavelmente acaba.
Hoje morreu a Rita Lee. E um foda-se bem dito, para ela seria provavelmente um elogio.
Lembro-me de ouvir Rita Lee antes mesmo de saber quem era ela e a importância que teria na minha vida como mulher e na construção da minha personalidade. Quando eramos pequenas, eu e a minha irmã, ouvíamos as cassetes de música dos meus pais em repeat vezes sem conta. Lá em casa ouvia-se e ouve-se ainda hoje um repertório bastante eclético de musicas do mundo. Claro que cada um tem as suas preferências, mas os meus pais são pessoas de ouvido tolerante e generoso.
Cresci a ouvir muita música francesa, alguma música africana e também clássica. Muita música de intervenção, portuguesa, estadounidense e latinoamericana. Mas o que mais se ouvia lá em casa era sem dúvida MPB. Sempre alimentámos a nossa costela brasileira, à base de muita música, literatura, novelas e cultura geral. Nunca entendi o preconceito que sempre houve em Portugal para com os brasileiros. Eu acho-os o máximo e com um país diverso e maravilhoso.
Mas voltando ao tema central deste meu post… naquelas cassetes, entre o Chico, a Betania e o Jorge Ben, apareciam umas canções diferentes, uma sonoridade que me prendia, um ritmo e umas rimas que só ela fazia. Era a Rita, que cantava nas cassetes dos meus pais e ajudava a construir ainda na minha infância um conceito feminista que só vim a reconhecer muito mais tarde.
Lembro-me que quando ela aparecia na tv ficava presa ao ecrã, tal era a exuberância das suas roupas, a sua energia em palco e a despreocupação com o resto, que me passava aquela atitude tão segura do seu eu.
Mesmo sem entender todas as metáforas e as ironías das suas letras, apaixonei-me por aquela franjinha ainda eu era uma criança. Mais tarde, perto dos meus 18 anos, ao assumir-me claramente mais rockeira do que de qualquer outro estilo musical, chegou a Portugal um programa que se chamava “Saia Justa”. Víamos os quatro, religiosamente cada semana, entre ela e a Fernanda Young (minha eterna musa das tattos), era provavelmente o meu programa preferido durante muito tempo. Fascinava-me ver mulheres tão reais, sem filtros nem condicionantes sociais, a falar com tanta propriedade sobre assuntos tão diversos. E principalmente a defender o lugar da mulher no mundo.
Enfim… escrevo para não me esquecer. Escrevo para mim e para um dia o Tom poder ler e conhecer uma época em que ele já não vai viver. Escrevo porque fico triste por tomar consciência de que aos poucos isto vai-se repetindo. Que aqueles que me inspiraram na adolescência e na chegada à minha década dos 20… aos poucos vão indo embora. Que o melhor é aceitar a morte e continuar a celebrar a vida. Sempre! E que por mais voltas que o mundo dê, ainda fazem falta muitas mulheres “mais macho que muito homem!”
Viva à Rita Lee!

*vi agora que o meu último post foi a 20/09 de 2022 e também foi sobre a morte. Foda-se outra vez! Espero que o próximo seja sobre um tema feliz e que eu não fique tanto tempo sem escrever. [note to myself]

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