24 horas em Ha Long Bay

Tenho uma lista (mental) de todos os sítios que gostava de ver no mundo.

Digo sempre que quero ir a todos os lados, mas na verdade há uns sítios aos quais gostaria mais de ir, do que a outros.

Ha Long Bay estava no topo da minha lista e queria muito ver esta baía com os meus próprios olhos. E mesmo com as espectativas altíssimas, não me defraudou!

É sem dúvida um dos locais mais impressionantes que já vi, não só pela sua extraordinária beleza, mas porque é incomparável e irrepetível. Primeiro ninguém sabe muito bem o que é aquilo, e além disso não há nenhum outro sítio no mundo que seja assim…

Ilhas “paralelepípedas” no meio do oceano? Mais de 1900 morros calcários, diferentes uns dos outros, com fantásticas grutas e solitárias praias, salpicam aproximadamente 1500km2 de água.

A baía de Ha Long fica no norte do Vietname, no golfo de Tonkín, perto da fronteira chinesa e mais ou menos a 170 km de Hanói; foi considerada património da humanidade e uma das sete maravilhas naturais do planeta.

Ha Long Bay quer dizer: “Onde o Dragão entra no Oceano”; conta a lenda, que um Imperador enviou um dragão para defender a sua terra das invasões chinesas que chegavam por mar; e ao mergulhar, o dragão chocou fortemente com a terra, criando assim todas estas mini montanhas.

É a maior atração turística do Vietname e isso é obviamente o seu calcanhar de Aquiles, mas como quase tudo na vida, se a visita for “bem feita”, é possível fugir à massificação e apaixonar-se perdidamente por uma das representações mais excêntricas da Natureza.

Numa viagem, o tempo e o dinheiro, são condicionantes importantes, se temos muito tempo, normalmente precisamos de menos dinheiro e se temos pouco tempo, gastaremos seguramente mais.

Nós, como tínhamos pouco tempo, resolvemos contratar um tour que nos foi buscar ao hotel em Hanói, deixou-nos diretamente no cruzeiro que tínhamos reservado e levou-nos de volta no dia seguinte.

De carro, são 4 horas entre o centro de Hanói e Ha Long Bay; e obviamente que é possível fazer o trajeto por nossa conta, mas na minha opinião, há mais probabilidade de que algo não corra tão bem.

No cais de Ha Long não há rigorosamente nada sem ser montes de agências e demasiados edifícios luxuosos à beira mar.

Se vamos desde Hanói por nossa conta e não chegamos a tempo de apanhar o barco, não teremos outro remédio se não dormir ali.

Os tours fazem o transporte em mini-bus com ar condicionado, e no caminho temos 4 horas para nos familiarizarmos com as pessoas com quem vamos dividir as próximas 24 horas num barco.

Foi a primeira vez que fizemos algo do género, e sinceramente não adorei. Não gosto da onda de ter atividades marcadas, ou horas para comer… Mas tenho que admitir que facilita muito se já está tudo organizado para que se chegue corretamente ao barco, sem muitas esperas em baixo de um sol fulminante, com a mochila às costas.

A nossa rota pelo Vietname começou em Hanói (no norte) e terminou em Ho Chi Minh city (no sul), por isso, como sabíamos exatamente em que dia queríamos estar em Ha Long Bay, resolvemos marcar o tour on-line, quando ainda estávamos em Barcelona.

Depois de muito ler em vários blogs, tripadvisor e lonely planet, a escolha do cruzeiro de Ha Long Bay não foi tarefa fácil; há milhares de agências e diversas opções.

Mas havia um tema unanime em todas as opiniões que li: quanto mais barato for o cruzeiro, pior será.

Por isso tentámos encontrar um que tivesse uma boa pontuação no Booking, com excelentes opiniões no Trip Advisor, e que estivesse dentro da média de preço, sem ser exorbitante.

Encontrámos o Rosa Cruise (recomendo 100%), custou-nos 220€ para duas pessoas com o seguinte incluído:

– Transporte com A/C do centro de Hanói até ao Cais de Ha Long Bay (ida e volta)

– Uma noite num camarote xpto, num barco pequeno (quanto menos gente melhor) e tradicional (em madeira e com a essência das antigas embarcações da Indochina)

– Atividades: Visita a uma fábrica de pérolas, passeio de kayak pela baía, seguido de mergulho, aula de tai chi e aula de cozinha

– Todas as refeições incluídas (2 almoços, um pequeno-almoço e um jantar) (as bebidas não estavam incluídas)

– Visita a uma gruta imensa numa das poucas ilhas com intervenção do Homem.

Sabendo como é tudo tão barato no sudeste asiático, e comparando com o resto da viagem, parece que esta noite nos saiu cara; até porque provavelmente gastámos pouco mais do que 220€ em todas as estadias do Vietname.

Mas não; na verdade penso que até foi bastante barato; porque tudo o que eu não queria era estar num barco com baratas ou ratos, ou ainda pior; com 50 pessoas, aos gritos a perturbar a minha passagem por uma das maiores maravilhas deste mundo.

À medida que fomos navegando para longe do massificado cais, fomo-nos separando dos outros barcos e entrando na nossa própria rota. A baía é enorme, não há porque andar uns em cima dos outros; e é possível ter total exclusividade em muitíssimos momentos, e assim fazer um passeio silencioso e idílico.

E assim aconteceu, tivemos sorte com o grupo (20 pessoas no total), bastante tranquilos e a querer aproveitar cada minuto. Tivemos sorte com o tempo, céu limpo, sol radiante e uma noite de lua cheia, daquelas que nos dá pele de galinha e lágrimas nos olhos.

Tivemos sorte com o barco, com a qualidade da comida, com o pessoal sempre atento e carinhoso, e tivemos sorte com a baía, que nos recebeu esplendorosa. (Impossível tirar da memória o espetáculo daquele amanhecer, quando acordámos no barco a velejar pelo Mar da China).

Ou também quando entrámos para o kayak, e vimos que não havia mais ninguém na água sem sermos nós; entre uma dúzia de rochedos, estávamos sozinhos num ecossistema único, com uma biodiversidade mágica; o sol a pôr-se, o som dos pássaros, e o mar a oscilar pela brisa quente que nos envolvia.

Completamente seduzidos por uma sensação de imensidão e pequenez indescritíveis.

Naquele momento, a baía de Ha Long absorveu todas as minhas tristezas e lembrou-me da importância de estar viva e de ter o privilégio de poder admirar tamanha beleza.

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