Quatro meses com o Tomás na minha vida.
O pós-parto continua.
Afinal até quando é que tudo isto é suposto durar? A última novidade é que de há umas semanas para cá, começou a queda do cabelo, tenho rolos esvoaçantes pela casa, como se vivêssemos no faroeste. Mais um incômodo para adicionar à já longa e desagradável lista.
Também já acabou a licença de maternidade. Aqui em Espanha são 16 semanas bem esticadas. Juntam-se os dias de férias, mais 15 dias de amamentação e com um bocadinho de sorte chegamos aos cinco meses e pouco.
Ora com menos de 6 meses como acham que está o bébé?! Pronto para ser ‘depositado’ numa creche? Seguramente que não! Aqui chamam às creches, guarderias… parece que servem para ‘guardar’ os bébés.
Mas nem me apetece escrever sobre isto, sobre quão injusta e cruel é esta sociedade competitiva e patriarcal, onde as mulheres sempre com menos oportunidades têm que se desfazer em várias para conciliar a vida familiar com a laboral. E os pobres bébés vão tão pequeninos para as creches, que mesmo podendo ter cuidadoras muito carinhosas, não se podem comparar ao colinho dos pais. Já para não falar que o sistema imunitário ainda não está preparado para tanta virose junta.
Enfim… entristece-me!
Por isso vou antes escrever sobre o meu novo eu, e o efeito desta maternidade que me assombra cada dia, e me maravilha e aterroriza ao mesmo tempo.
Pedi uma licença sem vencimento no trabalho. Ainda não tenho data definida para o regresso, mas devem ser cerca de 6 meses. Estou assustada. Vai ser a primeira vez que estarei sem trabalhar desde que comecei, a primeira vez que não vou receber um salário ao final do mês.
A maternidade trouxe-me muitos medos e isso deixa-me desconfortável.
Incertezas, dúvidas e mais medos.
Sei que faço bem em ficar com o meu bébé em casa, ele precisa de mim e eu quero cuidá-lo o melhor que posso. Mas tenho medo que no fundo, por muito que as licenças estejam normalizadas em Espanha, futuramente possam haver consequências laborais.
Tenho medo que o dinheiro não chegue.
Tenho medo de que estar 6 meses sem trabalhar seja uma irresponsabilidade, mais do que um acto de coragem.
Tenho medo que seja um risco demasiado grande no actual contexto sócio-politico da sociedade catalã.
Tenho dúvidas sobre criar um filho longe da minha familia em Portugal.
E tenho algum receio em dedicar-me a algum novo projecto e depois não conseguir estar à altura das minhas próprias expectativas.
Por outro lado, acredito que estes seis meses serão talvez os melhores de sempre. Olho para o meu bébé enquanto dorme e desaparecem todas as dúvidas, é só amor no seu estado mais puro e profundo. A sua existência emociona-me e por isso sei que será um privilégio poder acompanhar todas estas fases iniciais do Tom e dedicar o meu precioso tempo a novas ideias e novas possibilidades.
Sempre vivi intensamente, sempre viajei sem medo, sempre acreditei que podia fazer quase tudo, sempre dei a volta por cima e olhei para o copo meio cheio, porque sempre me senti no controlo da minha própria vida.
Nunca tive medo de morrer, sempre achei que ia aqui ficar até velhinha… mas agora assusta-me a ideia de poder não estar cá, de dar um mal passo, de fazer uma má escolha e de falhar a este pequeno ser.
Dou-me agora conta que a maternidade roubou-me isto: a ilusão de que tinha “tudo” controlado.
Vai tudo correr bem temos de viver o momento o dinheiro não é tudo na vida , ..viver com menos ….mas sim claro compreeendo teus receios como mãe , é normal , aventura grande deixar de trabalhar …mas vai correr bem , quanto ao cabelo eu anos assim há meses faz rolos….esta fase e normal beijocas prima e força qq coisa estamos aqui
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Grande texto! Os medos são tramados, confia. Não te deixes absorber por eles. Talvez precisasses do Tom para ver que por muito que se planeie há sempre factores que influenciam nos resultados e seremos mais felizes se aceitarmos que nunca conseguiremos ter “tudo” controlado. Um abraço enorme!
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Bolas, o corretor do telemóvel colocou “absorber” e não vi.
Errata: absorver.
✨
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Obrigada! Abraço-te de volta! ❤️
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Sem dúvida! O Tom chegou para desconstruir todo o perfeccionismo que impunha na minha própria vida. E ainda bem!
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Não te vou dizer que vai correr tudo bem, mas digo-te que (a julgar pelo que leio e o que se passa deste lado) acho que passamos todas pelo mesmo. Mas la está, disto não se fala!
Tenho muito mais sorte que tu, quando se fala das leis e costumes daqui, por isso não me queixo. És corajosa e seguiste o instinto de mãe, fizeste bem. Trabalho há muito, tempo com eles nem por isso. Confia!
“Tenho dúvidas sobre criar um filho longe da minha familia em Portugal.” – de tanta coisa que podia citar escolho esta, porque também me atormenta, e eu NUNCA tinha olhado para trás. É uma coisa de mãe emigrante que só nós sabemos, não é?
Cai-nos tudo. Beijinhos
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