A Rota dos Sonhos

Começa Setembro; as férias terminaram, voltei a pôr o relógio no pulso, a ativar o alarme no telemóvel e a pensar no que vou vestir no dia seguinte para ir trabalhar. Eu fui de férias e a rotina ficou em casa, voltei e aos poucos deixo que ela me abrace e me dirija mecanicamente pelo dia a dia em Barcelona. 

Estas 3 semanas de férias foram maravilhosas, a viagem roçou a perfeição e confesso que não tive saudades de nada e poderia continuar pela estrada fora durante muitas mais semanas. 

Chamámos-lhe a Rota dos Sonhos na nossa “CamperVan of Dreams”, porque desde a primeira noite em que dormimos nela, sonhámos. E sonhámos todas as noites que se seguiram; sonhos elaborados, com enredos, personagens e histórias mirabolantes. Uns bons e tranquilos, outros sem sentido e mais perturbadores; mas nenhum sonho nos fez acordar cansados ou de mal humor, como às vezes acontece na cidade. O H. normalmente nunca se lembra dos sonhos quando acorda, mas os sonhos que viveu na nossa furgoneta mantinham-se vivos na sua memória pelas manhãs. 

Tenho mais que assumido que cada viagem é uma aprendizagem, e que os lugares onde vamos e as pessoas com quem nos cruzamos têm uma missão no nosso caminho. Cada um interpreta como quiser e aprende o que conseguir.

Viajar neste formato, com a casa às costas, dá-nos uma liberdade indescritível e faz-nos perceber que realmente não precisamos de quase nada para viver bem e feliz. 

Acordar pelas manhãs, abrir a porta e ver uma paisagem diferente todos os dias, saltar para os bancos da frente e seguir caminho, encheu-me de plena felicidade a cada quilómetro desta viagem. Não ter que voltar atrás porque tudo estava connosco, poder decidir no momento, espontaneamente, se ficamos, se vamos, se paramos ou seguimos; porque somos um todo. O nosso transporte é também a nossa casa e não precisamos de mais nada, porque tudo está naquele espaço; que afinal não é tao pequenino, que afinal são vários espaços num só e onde na verdade nos sentimos tão bem, como se ali sempre tivéssemos pertencido. 

Há um livro que recomendo sempre a quem se inicia nisto das viagens, escrito pelo Gonçalo Cadilhe, que se chama “ O Mundo é fácil”, e onde ele mostra como é realmente fácil viajar hoje em dia. Ele fala de viagens de mochila (as que me roubaram o coração há quase 20 anos), mas na verdade este lema aplica-se a qualquer tipo de viagem, desde que organizemos as nossas prioridades e procuremos alternativas de acordo com as nossas possibilidades financeiras. 

Viajar de autocaravana é fácil e recomenda-se! Há várias aplicações GPS que nos ajudam a chegar a todos os lados, há Apps que indicam locais específicos para dormir, que são mais baratos que os parques de campismo, têm wcs e chuveiros, depósitos de aguas sujas e tanques de agua limpa. Alguns com segurança, nos arredores das cidades, outros no meio do nada, e os mais bonitos de todos; em frente a paisagens idílicas, que nos serenam ao anoitecer e nos alegram o despertar. Apps com informações sobre as rotas, as estradas, o trânsito, lugares de interesse, comentários de outros autocaravanistas; indicação de bombas de gasolina, praias, etc, etc, etc. 

Há todo um mundo dedicado ao autocaravanismo, furgonetas, carrinhas transformadas, campervans e vários outros formatos de veiculo-vivenda; que quem não sabe, nem se dá conta. Há verdadeiras mansões sobre rodas, com ou sem atrelados, há diversos modelos para todos os gostos e bolsos. 

Cheguei à conclusão que o ideal é viajar com um transporte extra, preferencialmente a bicicleta, ou se for possível, com uma pequena moto atrelada. Apesar de termos uma carrinha e não uma autocaravana tradicional, não cabia em parques de estacionamento subterrâneos e tivemos alguma dificuldade em estacionar dentro das grandes cidades. Por isso, para a próxima queremos ter um transporte alternativo, para poder deixar a campervan estacionada fora da cidade e nos movermos sem preocupações. 

Fizemos 3126km entre Barcelona, Astúrias, Cantábria, País Vasco, Montpellier, Costa Brava e novamente de volta a Barcelona. Tentarei escrever aos poucos sobre os lugares que mais gostei, mas para resumir o que senti, posso já dizer que voltei completamente apaixonada pelas Astúrias, que quero voltar a Santander e a Bilbao em breve; que só no País Vasco ganhei 2kg porque é impossível resistir àquela quantidade de pintxos deliciosos, e que a Costa Brava terá sempre um lugar especial no meu coração. 

Até pró ano Férias de Verão! 


4 opiniões sobre “A Rota dos Sonhos

  1. Que lindo este post! É realmente gratificante poder conhecer novas culturas, inclusivé dentro do próprio país, e “embriagar-nos” com tudo aquilo que de melhor nos têm para oferecer! 😊😘

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