Normalmente no dia de hoje, sempre que há uma greve geral ou uma manifestação convocada, eu sou a primeira a aderir. Por todos os motivos evidentes, mas também porque me recuso a contribuir e a ser conivente com a forma como a sociedade continua a tratar todas as mulheres.
Este ano estou de licença sem vencimento e sou mãe. Ou seja, mesmo que houvesse greve eu nunca poderia aderir. Primeiro porque não estou a trabalhar e segundo porque a maternidade, por mais que seja exigente, abrumadora, com apoios reduzidos, difícil na conciliação, esquecida pela sociedade e marginalizada no mundo laboral, jamais permite fazer qualquer tipo de greve. Ser mãe não é um trabalho, mas dá mais trabalho do que qualquer emprego que se possa ter.
Se antes já me revoltava toda esta realidade patriarcal em que vivemos, agora com um bébé ainda mais. Confesso que quando soube que ia ter um menino, senti uma pontinha de alívio; porque queremos sempre o melhor para os nossos filhos, e como os homens têm a vida facilitada, seria menos uma preocupação.
Mas o facto de ter um menino, também me coloca numa posição desafiante, porque é a minha grande oportunidade de educar um futuro feminista. Educar um homem para que olhe para as mulheres como iguais, para que as trate com respeito e consideração e nunca se julgue melhor ou superior, devido ao seu género. E igualmente importante, que não tolere ou se cale perante qualquer injustiça ou acto machista.
Não é uma tarefa fácil.
Principalmente porque não estou a educar sozinha. Porque o pai do meu filho, por mais que defenda os mesmos princípios que eu, cresceu rodeado de conceitos machistas e desiguais e que no fundo estão enraizados e muitas vezes vêm ao de cima nas pequenas coisas.
Desde que na adolescencia li o ‘Segundo Sexo’ da Simone de Beauvoir, percebi que é impossível viver num mundo onde não se aplica essa teoria que defende direitos iguais para todos os sexos.
Eu vou criar um feminista, vou educar para a igualdade. Porque é o correcto e o mais justo, mas também porque fazem falta. Porque fazem falta homens verdadeiramente feministas no mundo e vou ter muito orgulho, se o meu filho for um deles.
Eu também fui educada nesta sociedade patriarcal e na minha família, por mais que as mulheres fossem respeitadas e cuidadas, as tarefas domésticas sempre foram predominantemente desempenhadas por nós.
Por isso, cabe-me a mim como mãe, ajudar a filtrar e a acabar com todos os conceitos machistas com que cresci. Assim como a igualdade se ensina, também se ensina a desigualdade, é triste que ainda se eduque com estereótipos de gênero, com normas e formas de se comportar para meninos e meninas.
O contrário de igualdade é a desigualdade, não é a diferença. O facto de todos sermos diferentes, é o que torna o ser humano fascinante. Construir desigualdades em cima dessas diferenças, é que é vergonhoso e condenável. Quero que o meu filho aprenda que o correcto é respeitar todas as pessoas, independentemente do género, cor da pele, nacionalidade, etnia, religião, etc. Quero ensina-lo que não se deve ser indiferente à injustiça e à desigualdade, que se deve ser solidário e comprometido em fazer do mundo um lugar mais justo.
Quero-lhe dar todas as ferramentas para que seja um homem independente, que domine as tarefas domésticas, que compreenda a importância de ter iniciativa em casa, que deve sempre fazer a sua parte. Quero ter uma linguagem clara e honesta, falar sobre a liberdade do corpo, a sexualidade… nao quero que sinta que há silêncios e tabus em casa.
Quero que cresça num ambiente saudável, com igualdade e espero conseguir ser um exemplo para ele, como os meus pais foram para mim.
Agora só tenho que arregaçar as mangas, e acreditar que é possível e que assim como eu, há muitas mães e muitos pais a começar a educar esta nova geração acabada de nascer, para serem feministas convictos.
Feliz Dia Internacional da Mulher! Juntas somos mais fortes!