Hoje faço greve e sei que no final do mês me vai fazer mossa, sei que amanhã quando voltar a abrir o email, vai estar tudo ali por fazer e terei o dobro do trabalho; mas hoje faço greve à mesma e vou-vos contar porquê.
Sou feminista desde sempre, venho de uma casa onde o meu pai e a minha mãe me ensinaram a defender a igualdade entre os géneros, a acreditar que posso conseguir tudo a que me proponho independentemente de ter nascido mulher; ensinaram-me que um ser-humano deve ter ambas qualidades femininas e masculinas e mais importante que tudo, os meus pais ensinaram-me que eu devo pensar sempre pela minha cabeça e nunca me deixar influenciar por padrões pré-determinados, estigmas ou preconceitos assumidos por uma maioria ou por uma minoria.
Desde miúda que muitas vezes me disseram que sou mandona, atrevida, faladora, que tenho mau feitio, que sou dominante, e uma longa lista de adjetivos no mesmo sentido…nunca me afetou, porque efetivamente tenho esse caracter; mas nunca percebi o porquê de isso poder ser considerado um problema. Até que me dei conta que o problema não estava na minha personalidade, mas sim no facto de ser mulher. Se um homem tem as mesmas características que acabei de escrever; é considerado forte, com capacidade de liderança, pioneiro, corajoso e decidido.
O que numa mulher pode ser criticável, num homem é considerado uma virtude.
Há algo de errado na perceção que temos dos géneros, na forma como a sociedade olha para si mesma. Por isso, esta greve feminista é uma mobilização de caracter social e reivindica a necessidade de fazer mudanças para que se consiga uma igualdade real entre homens e mulheres. É de caracter social porque além de parar de trabalhar, devemos parar de cuidar e de comprar. A ideia é que se perceba finalmente que se metade da população para, o mundo também acaba por parar.
E falando em parar, o que tem realmente que parar são as agressões, as humilhações, as exclusões, a diferença salarial, os abusos físicos e psicológicos, a desigualdade, a objectificação, o assédio, a violência, o desrespeito e todas as formas de mal trato e desigualdade com que as mulheres de todo o mundo, ainda hoje, continuam a ser tratadas.
Hoje faço greve porque estou farta disto tudo, mas principalmente porque hoje se celebra a aliança de muitas mulheres, que um dia todas juntas começaram este mesmo caminho que agora percorremos nós, e lutaram por muitos dos direitos que temos. Hoje celebramos os direitos conquistados e defendemos que só unidas/os podemos continuar a fazer a diferença, a mudar realidades e cabeças.
Sou feminista e não compreendo as pessoas que não o são.
fe·mi·nis·mo fe·mi·nis·mo (francês féminisme)
substantivo masculino
Movimento ideológico que preconiza a ampliação legal dos direitos civis e políticos da mulher ou a igualdade dos direitos dela aos do homem.
“feminismo”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
Esta é uma questão que afecta todos, homens e mulheres. Por isso pergunto a todos os homens que dizem que não são feministas, se pensam que as suas mães, irmãs, mulheres e filhas, não deviam ter os mesmos direitos que eles. Pergunto a todas as pessoas que dizem que não são feministas, se dormem descansadas quando as filham saem à noite, já que vivemos numa sociedade em que em vez de se ensinar os meninos a não violar, ensinam-se as meninas a ter cautela e prudência.
Não há que ter vergonha ou medo de dizer que se é feminista; isso de nenhuma forma quer dizer que odiamos os homens ou que lhes vamos tirar algum direito. “O feminismo não é uma tarte de maçã; não é porque eu como mais um pedaço, que tu vais comer menos.”.
Li recentemente a brilhante resposta da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, à pergunta: Porquê usar a palavra feminista e não dizer simplesmente que se defende os direitos humanos? Ao que ela respondeu que não seria nem justo nem honesto usar um termo geral como “direitos humanos”, uma vez que isso seria negar que se trata se um problema especifico e particular do género. Seria uma forma de fingir que as mulheres não foram excluídas e marginalizadas durante séculos; que tradicionalmente o problema não era ser humano, mas concretamente ser um humano de sexo feminino.
Há efetivamente uma diferença, e por isso é que eu além de defender os direitos humanos, também sou feminista. Porque defendo direitos iguais para todos, homens e mulheres, de todos os países, de todas as raças, etnias, cores e sabores; defendo um mundo sem etiquetas, sem preconceitos, sem violência. Eu sou feminista, porque acredito que o feminismo não está contra ninguém, mas sim a favor de todos.
Solidário e completamente de acordo.Sempre estive nessa luta…..bj grande
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Claro que sou feminista, e em relação a este texto só tenho a dizer: OBRIGADA!
Que haja mais e mais de nós assim, sem medos, e devidamente informadas e iluminadas. Hoje então pesam sobre nós todas as injustiças que as nossas irmãs, por todos os cantos do mundo, ainda sofrem… E tantas nem sequer se podem expressar.
Não é um dia para presentinhos e chocolates, é um dia para (caso não o façam nos outros) reflectir sobre tudo isto e ajustar ainda mais o rumo para que estas coisas deixem de acontecer. Haja noção! E haja luta, todos os dias, quanto mais não seja pelas nossas (hipotéticas) filhas!
(vou partilhar)
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Obrigada querida! Juntas podemos! 💪🏽🙌🏽😘
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