Barcelona tem destas coisas <3

A primeira vez que vim a Barcelona foi em 1994. Tinha 14 anos e voltava de umas férias no sul de França com os meus pais. Tenho claríssima essa primeira visita, acho que todos temos, porque os quatro ficámos bastante impressionados com a cidade. A minha mãe ainda hoje conta, que nessa viagem, já de madrugada, eu e a minha irmã não queríamos voltar para o hotel. Queríamos continuar nas ruas, com todo o frenesim e toda aquela movida imensa, que era até então desconhecida para nós. Barcelona bateu forte desde o primeiro momento, e com 14 anos apaixonei-me perdidamente por aquela que ia ser, muitos anos mais tarde, a cidade da minha vida.

A segunda vez que vim a Barcelona foi em 2001. Uma viagem com amigos que tinha como objetivo chegar ao Rally Europeu de campistas e caravanistas, que naquele ano se celebrou em Itália. Essa foi uma daquelas viagens com muitas imagens turvas e perdidas na memória, mas que sei que me diverti milhões.

A terceira vez que vim a Barcelona foi em 2003. Ganhei um concurso de poesia, cujo prémio era uma viagem para Lloret de Mar, para duas pessoas com tudo incluído. Vim com o H. e como Lloret se vê basicamente em 2 dias, o restante tempo, apanhámos o comboio e viemos redescobrir a cidade condal.

A quarta vez que vim a Barcelona foi no início de 2007. Vim sozinha, ao encontro da B., minha irmã de coração, que já cá vivia há mais ou menos quatro meses. A quinta e última vez que vim, foi no mesmo ano em Setembro. Já vim com o H., com claras intenções de vir para cá viver. E assim aconteceu a 29.10.2007.

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Hoje escrevo sobre esta penúltima vez, em Abril de 2007. Sem saber, apanhei umas festas na cidade. Era o San Jordi, aquela festa em que as ruas se enchem de bancas a vender livros e outras a vender rosas. A cidade enche-se de cor, de cultura e de ainda mais alegria do que já tem normalmente.

Lembro-me que descemos da Gracia ao Raval, num sábado à tarde cheio de sol e que as ruas tinham tanto ambiente, tão boa onda, com as esplanadas cheias de gente, amigos, carrinhos de bebé, skaters e pessoas de todas as idades. Em 2007, Barcelona era tão moderna e cosmopolita comparada com Lisboa, naquela altura.

Provavelmente agora já não se notará tanta diferença, e ainda bem. Mas em 2007, isto aqui era muito, mas muito à frente.

Recordo-me que estava tão contente por visitar a minha amiga, por vê-la feliz e integrada numa cidade tão brutal como esta, que também eu queria vir para cá viver. Principalmente para estar perto dela, mas também porque me identificava muito mais com esta cidade, do que com aquela de onde vinha.

A minha amiga levou-me aos sítios onde ela costumava ir, com as pessoas com quem ela costumava estar. Não foi uma visita turística e foi a primeira vez que vi Barcelona com um olhar diferente, que ainda hoje não consigo bem classificar. Nunca a voltei a ver com aqueles olhos, até hoje.

Naquela visita vi como é viver numa cidade do mundo, onde todos podemos ser importantes, mas onde ninguém se importa com nada. Uma cidade cheia de potencial e oportunidades, onde as pessoas são curiosas e têm vontade de descobrir e de se conhecerem umas às outras.

Naquela altura, Barcelona, era para mim a realização de um sonho, era o São Francisco dos anos 60 e 70, era a liberdade e o acesso a uma sociedade multicultural onde havia tanto para aprender.

Hoje continuo apaixonada pela cidade e mais ainda pela vida que construi aqui, sinto-me totalmente eu, sem máscaras ou condicionamentos a nenhum nível. Mas obviamente, quase 12 anos depois, a minha perspectiva mudou em muitíssimas coisas, porque a isso se chama amadurecer e contra isso poucos podem lutar.

Hoje uma amiga enviou-me Este Artigo da Revista online Lecool, em que se fala de um cinema que apresenta sessões, onde os pais que têm bebés com menos de 15 meses, podem assistir aos filmes levando as suas crianças.

Não são filmes infantis, são os mesmos filmes que estão nos outros cinemas, mas aqui pode-se entrar com os miúdos. Os filmes são projetados em versão original, a sala tem luz ambiente, o som ligeiramente mais baixo, e pode-se entrar com o carrinho. Na entrada há mesas preparadas para mudar os miúdos, e mais algumas particularidades para facilitar a estadia no cinema com os bebés. O preço é de 6€ por pessoa e as crianças não pagam.

Os pais que não têm onde deixar os seus filhos, não têm mais que se privar de ver um bom filme, numa sala de cinema de verdade.

Agora que estou grávida e que daqui a alguns meses a minha vida vai levar uma volta daquelas que nos deixa a andar de lado, estas coisas suscitam-me obviamente todo o interesse. Mas mais que interesse, despertou-me o mesmo sentimento, daquela quarta visita a Barcelona em 2007. Uma admiração extrema por todas as iniciativas que aqui acontecem e por tudo o que esta cidade ainda nos tem para oferecer.

Já sei que os tempos que se adivinham serão de extrema felicidade, mas também de extrema dificuldade e adaptação, muitos medos, questões intermináveis e uma constante e provavelmente eterna incerteza sobre o futuro. Mas esta pequena noticia sobre este cinema, devolveu-me um bocadinho da tranquilidade roubada, no dia em que vi os dois tracinhos naquele teste de gravidez. E como escreveu a amiga, que me mandou a mensagem com o link da Lecool: Barcelona tem destas coisas. ❤

 

 

5 opiniões sobre “Barcelona tem destas coisas <3

  1. não contando com transfers de aeroporto, acho que já estive em Barcelona 5 vezes… acho engraçado quando falas de ver a cidade com ‘um olhar diferente’, que até ao ‘hoje’ em que escreveste voltaste a ter 🙂 isso também já me aconteceu com Lisboa: por um lado, nos últimos anos reparti a minha vida por outras cidades e, por outro, a nossa capital tem mudado tanto. como resultado, se às vezes não conheço a minha Lisboa, é engraçado que há pequenas coisas que quando descubro me fazem confirmar que, apesar de ter uma gigante necessidade de me aventurar por aí, Lisboa será sempre a minha cidade 🙂 abraço e que tudo continue a correr bem 🙂 PedroL

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  2. Tenho sempre muitas saudades de Lisboa. Mas tenho também um bocadinho de medo de voltar a viver aí. Exactamente porque a cidade mudou tanto, e porque eu não acompanhei essa mudança. Lx é também a minha cidade, mas acho que sou eu que já não sou só de Lx. É um sentimento estranho.
    Mas sei que sempre que vou de visita continuo a sentir a mesma paixão do antigamente. 🥰
    Abraços!!

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