Ontem foi dia de andar de mãos dadas, caminhar pela cidade, relembrar velhas memórias, recordar projetos antigos e sonhar juntos. Só os dois, como ‘dantes’!
Tinhamos um voucher para uma massagem comprado há meses, cujo último dia para usar era ontem. Felizmente temos a sorte de ter a minha irmã a um quarteirão de distância, sempre disponível para ficar com o sobrinho e ele encantado por ir para casa da Tata e do Tutu, como carinhosamente os chama.
Comprámos este voucher na expectativa de ter uma noite a dois, com massagem, restaurante e copos, um momento para desconectar da mater/paternidade. Mas a pandemia trocou-nos as voltas e como está tudo fechado depois das 5pm, aproveitámos apenas a massagem e um passeio de regresso a casa abraçados, sem carrinho de bebé para empurrar.
A massagem foi tão maravilhosa, que por um momento achei que estava do outro lado do mundo, na minha saudosa Ásia. E essa sensação foi tão intensa e presente em nós os dois, que nos transportou para o nosso universo das viagens.

Quando viajamos cria-se uma energia entre nós que não é fácil de explicar, somos a equipa perfeita. Alinhamos nas mesmas coisas, gostamos do mesmo tipo de risco e sabemos quando queremos parar, o que queremos experimentar e o que não é para nós.
É a viajar que somos mais felizes. É quando viajamos que estamos mais despreocupados. Por muitos kms de mochila e pé no chão que façamos, são esses os momentos em que estamos menos cansados. O desconhecido é-nos confortável, o que se nos apresenta dá-nos a adrenalina que alimenta a nossa curiosidade.
Tinha tanto medo que a maternidade me tirasse essa sensação, a sensação de estar viva, como pessoa curiosa pelo mundo, como viajante destemida e decidida.
Mas não! Ontem, naquela massagem, completamente relaxada, ao som das harmoniosas taças tibetanas, eu senti-me a viajar e reencontrei aquela sensação de felicidade extrema. Uma felicidade que sente quem só está bem onde nao está e só quer ir aonde não vai.
Descemos da Gracia para o Eixample de mãos dadas, meio a flutuar depois de nos descontraturarem a alma, e percebemos que o facto de agora sermos pais pode-nos ter mudado para o mundo, mas não para nós.
Nós somos os mesmos, diferentes mas iguais, como ‘dantes’. Na verdade, somos agora os pais que sempre imaginámos vir a ser, como todos aqueles com quem nos cruzávamos nos aeroportos, carregados com as malas e os filhos na mochila. Nós somos pessoas que viajam, que querem ver o mundo, antes sem filhos e agora com.
Não tínhamos dúvidas, mas ontem tivemos a certeza.
Mal o mundo permita, vamos pôr as mochilas às costas outra vez. Porque agora somos três e temos mais motivos que nunca para o fazer.