Caravela Gourmet [1 moscatel duplo, por favor!]

Em 2003 quando vi o filme: ‘L’Auberge espagnole’, tomei a decisão de me inscrever no programa Erasmus na minha faculdade. Lembro-me de sair do cinema com aquela adrenalina própria de quem está prestes a cometer uma loucura e senti que aquele filme ia mudar a minha vida. Em 2004 fiz as malas e fui sozinha estudar para a Universidade de Southampton em Inglaterra. Foi uma experiencia incrível e memorável, sobre a qual escreverei noutro momento… 
Quando regressei do Erasmus em 2005, tinha uma única certeza, não queria continuar a viver em Portugal; queria ver outros mundos, realidades diferentes e apesar de Lisboa ser a minha cidade, naquele momento não me preenchia. Por circunstâncias da vida demorei 2 anos a mudar-me, finalmente aconteceu em 2007 e devo-o em grande parte à minha querida amiga Ana by the Sea,  que me recebeu em Barcelona de braços abertos. 

A mudança para a cidade condal foi uma aventura sem tamanho, precisava de 3 vidas para conseguir contar todas as peripécias que já aconteceram aqui. Depois dos primeiros meses, percebi que o filme que tinha visto 4 anos antes estava bastante perto da realidade. Barcelona tem a admirável capacidade de fazer com que a nossa vida pareça um eterno Erasmus. Não me arrependo de quase nada e voltaria a fazer quase tudo, mas provavelmente alguns anos antes. 

A condição de emigrante hoje em dia é diferente daquela a que nos habituámos nos anos 70, já não se emigra para construir a casa na terra e voltar em Agosto com o BMW. Emigra-se para viver, sem dúvida para viver melhor, para ter outras oportunidades; mas também para aprender, para conhecer outros e nos conhecermos a nós próprios. É maravilhoso e recomendo a todos, que saiam em algum momento do seu país e vejam o que há lá fora; depois, se for possível voltem e façam o que vos fizer mais feliz. 

Eu ainda não voltei e até agora não penso nisso, mas nunca se sabe o dia de amanhã… 

O grande problema de ser emigrante, são as saudades, é um demónio que nos atormenta diariamente. Vive dentro de nós, às vezes adormecido e outras vezes, dominado pela nostálgica angústia, lança saudades em estado liquido pelos nossos olhos. 

Dramático? Talvez um pouco, mas eu sinto-o assim! Não ver os nossos pais envelhecer, não ver os filhos dos nossos amigos crescer, não acompanhar a vida de quem amamos; isto a mim parece-me bastante triste. 

Mas há algumas coisas que nos diluem a tristeza, aquecem o coração, adoçam a boca e embriagam o demónio que levamos dentro. Em Barcelona há um local onde isto acontece e chama-se Caravela Gourmet! 

Uma loja de vinhos e delicatessen, onde também podemos encontrar queijos, enchidos, cervejas artesanais, tapas e conservas, compotas e muitos mais produtos gourmet, escolhidos a dedo pelos proprietários, que alegremente navegam deste lado da península. 

Aqui é o ponto de encontro de grande parte da “comunidade portuguesa” em Barcelona, mas é também o local onde os vizinhos do bairro vêm tomar o seu copo de vinho. Misturam-se os sotaques e falam-se várias línguas ao mesmo tempo; porque todos são bem-vindos e todos nos sentimos em casa. 

Situado num dos “bairros da moda”, está perfeitamente enquadrado na vida social catalã e preenche todos os requisitos necessários para estar na “berra”. Como eu costumo dizer: é um sitio bonito, com gente bonita! 

A importância de ter um local que nos faz sentir perto, quando estamos longe; só nós é que sabemos!!